VALENTINA * LOXY

terça-feira, março 25, 2003

A história do perfume ...
Detesto perfumes fortes e doces, sempre acreditei que um bom sabonete substitui muito bem qualquer um, embora reconheça que quando bem escolhido e usado na quantidade certa este tem o seu charme.
Eu devia ter uns 13 anos, mas me lembro como se fosse ontem. Era uma sexta-feira e ia ter uma festa no clube, eu estava muito animada e ansiosa, naquela época não era sempre que podia sair com as amigas (não à noite e muito menos para voltar a hora que quisesse), mas naquele dia minha mãe estava realmente concessiva.
Comecei a me arrumar: banho tomado, roupa separada em cima da cama, e um problema enorme com o cabelo, mas nada que eu não estivesse já acostumada, tudo acontecia na mais perfeita normalidade.
Eu já estava praticamente pronta, quando resolvi dar uma olhada no espelho para conferir se estava bem, sentia que faltava alguma coisa, foi então que um insight maldito me veio a mente, P E R F U M E.
Corri até o armário da minha avó. Encostado no canto estava um frasco empoeirado, com um líquido de uma cor bem amarela, no rotulo já esfarelado ainda conseguia-se ler a procedência , perfume francês. Abri e cheirei, não me parecia de todo ruim.
Sem muita experiência apertei o spray em direção ao pescoço (um erro fatal, pois não é fácil controlar a quantidade de perfume que sai) logo um jato enorme daquela coisa escorreu pelo meu pescoço inteiro. Prevendo um desastre maior fui até o banheiro e comecei a jogar água na tentativa de aliviar um pouco aquele cheiro.
Com o passar do tempo você acaba se acostumando com um cheiro muito forte e passa a não senti-lo mais, porém o cheiro não deixa de existir, foi o que aconteceu.
Cheguei na festa eu já tinha me esquecido completamente do perfume e estava realmente me divertindo, mas mesmo assim alguma coisa estava me incomodando, só não conseguia saber o que era.
Começou com uma pequena dor de cabeça, que foi aumentando até se tornar uma dor insuportável e lá pelas tantas:

“Putz, tem alguém usando um perfume insuportável, vocês estão sentindo?”

Passei então a procurar o dono daquela fedentina toda, como uma neurótica . Eu não conseguia mais parar de pensar e de reclamar do cheiro, uma pequena obsessão tomou conta de mim:

“Gente, tem alguém me perseguindo e está com um cheiro muito ruim, todo lugar que eu vou lá está o cheiro, não estou agüentando mais.”

“Vocês não estão sentindo. Chega aqui perto que dá pra sentir, quem será que é?”

A essa altura minha cabeça estava quase explodindo e como não conseguia mais aproveitar a festa, resolvi voltar para casa, amaldiçoando aquele fedorento (no caso fedorenta) que tinha acabado com minha noite.
Eis que quando chego em casa, ao abrir o portão bate um ventinho leve

“Aiiiiiii, sou eu a fedorentaaa, não acredito.”

Então, foi como se um flash passasse na minha frente dando total ênfase ao esquecido perfume francês da vovó.
Me senti a pior das espécies sem contar a horrível dor de cabeça que ainda continuava. Corri para o chuveiro para me livrar de vez daquele cheiro horroroso.
Dizem que é do sofrimento que se aprende, isso eu já não sei. Só sei que no final daquela noite eu havia chegado a grandes conclusões:
Nunca usar o perfume de avó alguma, pois corre-se o risco de aquele perfume ter quase a mesma idade que ela. O cheiro do perfume pode ser alterado conforme a quantidade que se usa. Se o frasco estiver empoeirado é porque ninguém usa, logo se constata que o perfume não presta. Perfumes de cor amarelo “urina” são os piores e jamais em hipótese alguma reclame de um cheiro estranho sem antes constatar que ele não vem de você.

Um perfume equivocado pode realmente estragar uma noite.